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tirsdag, juni 20, 2006

sobre a escola - Noruega e Portugal

Pergunto-me se vozes vindas das escolas pertencem sempre aos professores. Eu sou aluno do último ano do secundário numa escola norueguesa – uma experiência de um ano, após 11 anos de escola em Portugal – e sou filho de uma professora de matemática do 2º ciclo que sente a sua profissão a 100% e a traz muitas vezes para casa, discutindo as novas reformas e as que estão por fazer, os casos pessoais de alunos que precisam de ajuda, procurando sempre novas ideias para pôr em prática e para tentar catalisar os interesses dos estudantes para a matemática – utilizando, para além dos livros, de jogos, truques de magia, representacões teatrais, etc. Considero que tenho assim uma perspectiva singular sobre a educação em Portugal, especialmente em comparação com a Noruega (que é, afinal, o 1º país do ranking da ONU), e é por isso que escrevo – e porque sou também uma voz dentro da escola.
Já li aí que a obrigatoriedade do ensino faz com que alunos "incorrigíveis" tenham que permanecer na escola até aos 16 anos; mas eles não são "incorrigíveis". Uma diferença substancial entre Portugal e a Noruega, é verdade, é que aqui 98% da população pertence à classe média, o que significa geralmente que tem boas condições de estudo em casa. As condições em que o estudante vive, os pais, o ambiente familiar, são extremamente importantes para a educação de um aluno - a educa ção não passa simplesmente pelos programas educativos e pelos professores, mas por um desenvolvimento social a todos os níveis. Ainda assim é mais que provável que Saramago tenha razão quando diz que ler e gostar não é para todos. E gostar de matemática também não é para todos. E é difícil mudar alunos que, por uma razão ou outra, foram "desviados". Mas é possível, e é dever de todo o professor acreditar nisso. Toda a criança e adolescente tem ou deve ter o direito de estudar e de ter professores que acreditem nele, custe o que custar.
Nem tudo é perfeito na Noruega. Durante os primeiros 10 anos de escolaridade, todos os alunos passam, independentemente das notas. É fonte de uma certa preguiça – aos 14 anos eu estudava muito mais que o meu irmão de acolhimento que tem precisamente essa idade, que apesar de tudo tem boas notas. Toda a gente da minha turma estudava muito mais. Mas apesar de tudo não se ouvem muitas críticas por aqui. É assim que é. E essa é uma diferença fundamental entre os dois sistemas de ensino: em Portugal as reformas, aqui ou ali, chegam demasiadas vezes. Imaginem o dinheiro que se pouparia em manuais escolares se ainda púdessemos usufruir dos de há dez, quinze anos anos atrás (por exemplo, os alunos podiam vender os livros mais baratos em segunda mão, como aqui na Noruega) – mas não, os programas estão sempre a mudar, recuam e depois voltam a ter o mesmo conteúdo. Aparecem provas de afericão de que os alunos ignoram o objectivo, exames para o 9º e 6º anos, os tempos escolares passam de 50 para 45 minutos, mas os blocos de 90 minutos não têm intervalos no meio, os programas são completamente modificados – eu faco parte de um ano de transicão em que tínhamos o horário do ano anterior mas o programa do ano seguinte. Em Portugal tudo está em perfeita mutação. Não existem, pelo mundo fora, sistemas de educação perfeitos. Existem sistemas de educação que dão os seus frutos após algum tempo, que precisam de aprender com os erros e que se vão refinando. Eu senti-me, muitas vezes, genuinamente confuso com estas mudancas abruptas na educacão em Portugal.
Por fim, realço outro pormenor: na Noruega as escolas têm muito mais independência em relação ao Estado, por exemplo no que respeita à capacidade de decidir sobre o pessoal docente. De despedir e contratar. Em Portugal os professores são colocados. Nos milhares de professores desempregados existem muitos com mais qualidade dos que estão colocados. Não existe um sistema de avaliação eficaz dos professores; eles entram com a ajuda da nota do estágio, por exemplo, que depende muito do supervisor que arranjaram. E o outro factor que conta é a idade e o tempo de ensino. O que deixa os jovens no desemprego. Esse não é o maior problema para os estudantes – o mais problemático é que alguns deles são melhores dos que os que estão na escola. Porque na escola existem muitos professores "piores do que estudantes", que muitas vezes faltam às aulas e que fazem pouco mais do que recitar a matéria. Mas também existem muitos que gostam do que fazem, e que se esforcam pelos seus alunos – e esses, acredito, querem ser avaliados, querem a sua própria avaliacão.
Podia escrever mais, mas talvez já tenha dito demais, por isso concluo apenas que ser professor não é fácil, e não é aceitar apenas ter alunos que estudam muito e não têm problemas, mas aceitá-los a todos.
Publicado como comentário aqui.

torsdag, juni 15, 2006

Depois de 10 meses a ler o meu nome mal escrito

este blogue termina a 26 de Junho.

torsdag, juni 08, 2006

plano pessoal de leitura

O debate sobre o plano nacional de leitura é extremamente pouco importante. Não apenas porque a leitura será sempre uma coisa de poucos, como diz Saramago; digo que não é por isso porque se certas leituras são realmente coisa de minorias, pelo menos o jornal podia bem ser lido de toda a gente. Eu gosto de ler, sempre gostei. Sem demasiados compromissos. Gosto principalmente de cometer certos crimes, como os de ler enquanto como, na casa de banho ou deitado na minha cama. Leio as costas das caixas dos cereais, revistas, jornais, blogues, letras de músicas, capas de CD, anúncios. Leio quase túdo. Leio livros também, claro. E acho que o debate sobre o plano nacional de leitura é extremamente pouco importante na vertente que destaca as escolas, porque o facto de eu gostar de ler não tem absolutamente nada a ver com as minhas aulas de Português. Em Português aprendi a conjugar verbos, a classificar substantivos, adjectivos, predicados, complementos directos e indirectos. Mas enquanto leitor nada disso foi importante.
O livro é apenas uma parte da história. A outra é o leitor. Os livros são diferentes de cada vez que se lêem. Estar a analisar frase a frase um livro é rídiculo. Porque aquilo que é importante para os outros não é necessariamente para mim. E o escritor que me perdoe, o que ele pensa do seu próprio livro é irrelevante. Numa primeira fase as opiniões dos outros são muito pouco importantes. O que me levou a ler aquele livro, o texto de contracapa, os passos que dei até à prateleira, o facto de ter deixado cair o livro no chão, do livro ser novo ou antigo, de ter uma capa vermelha ou azul, vai múdar fatalmente a minha visão do livro.
A primeira vez que tentei ler o Diário de Anne Frank não suportei o cheiro naúseabundo daquele paralelipípedo da literatura (a sério, a edicão que eu possuia, Livros do Brasil, exalava um odor estranho e pouco agradável); quando o meu olfacto conseguiu ignorar o cheiro por uma centena de páginas fiquei fascinado. Quando tentei ler Os Maias pela primeira vez até comecei por gostar, até chegar à parte das touradas e uma série de imbróglios sociais que foram do mais chato que já tinha encontrado na literatura. Tinha gostado mais do mais leve Fidalgo da Casa Ramires. Um ano depois fuí obrigado a estudá-los, a'Os Maias, e encontrei algumas coisas que me fizeram admirar Eca de Queiróz. Uma delas foi o facto de os livros em cima da mesa de cabeceira de João da Ega, e a própria decoracão da Vila Balzac, o nome até, serem súficientes para compreender o sújeito. E também aquela forma extraordinária de transmitir todo o desencanto de uma geracão. Mas também houve coisas de que não gostei. Dos tempos mortos em que se passavam páginas e páginas sem avancos de monta. E da escrita, várias vezes um tanto ou quanto repetitiva. Mas o que eu não gostei mesmo nada foi de que me obrigassem a lê-lo. Seria muíto mais interessante se me proibíssem. Além disso teria certamente tido 5 se escrevesse uma crítica negativa ao livro Os Maias. Existe uma falta de liberdade tremenda na escola.
E para mim ler está associado à liberdade. Ler é também ir à procura nas estantes do meu pai do meu próximo livro; eu gosto tanto de fazer isso que conheco vários títulos e autores de livros que nunca li, e sei apontá-los na estante melhor do que ninguém. Ler é também pergar num livro ao acaso, ou por ser polémico, ou por ter ganho um prémio, ou porque nunca ninguém ouviu falar ou porque sim. Ler é ignorar várias páginas, ir para a frente e para trás. Ler é ler o mesmo livro duas vezes, três, quatro. Ler o que nos apetecer na altura. Se nos apetecer um livro que já tínhamos lido, porque não outra vez? Ler é também parar a meio. É ler um livro num dia e outro ao longo de seis meses. Ler é o que nos apetecer.
E dizem-me que os clássicos são importantes. Porquê? Porque é que não é importante ler um livro que daqui a 50 anos vai ser um clássico? Todos os bons livros são importantes. Repito, ler é o que nos apetecer.
Por definicão, ler é compreender. Eu não quero que me expliquem. Eu só quero compreender. Às vezes só muito tempo depois é que percebo completamente o que um escritor quiz dizer com certa frase. Às vezes só depois de uma entrevista, ou de uma crónica. Mas compreender não é darem-nos um texto que diz o que o livro significa. É chegarmos lá sozinhos. E provavelmente descobrir que se pode compreender correctamente de várias maneiras diferentes.
Vou dizer-vos, por fim, o que é um teste de Norueguês: temos cinco exercícios, escolhemos um. Durante cinco horas escrevemos quatro, cinco, seis páginas de texto sobre esse tema. Esse tema pode ser um livro. Não incluí perguntas de interpretacão e outras que tais. E mostra que o aluno sabe escrever, muito mais do que os testes em Portugal, que raramente incluem espacos para criatividade. É isso que eu gostava que houvesse em Portugal. Mas não vou dizer que quero um melhor sistema de educacão para os meus filhos, quando os tiver. Porque se eles gostarem de livros vai ser, muito provavelmente, comigo que vão aprender. E com os meus genes, porque, afinal, ler não é mesmo para todos.
É por isto que mais que plano nacional, o que me preocupa é o plano pessoal de leitura.

fredag, juni 02, 2006

Exame!

Fiz agora o exame de matemática. Emipricamente diria que me correu bem, mas, matematicamente, correu-me pessimamente. Fui o primeiro a sair da sala e até revi uma parte do exame até que simplesmente "os meus neurónios estouraram, e isso explica o Bum!" e sai. Só não fiz uma alínea, de resto completei tudo com alguma certeza de que o raciocínio estava certo. O facto de só ter usado 4 horas e do génio da turma, e todos os outros alunos de 3MX - Matemática do 3o Ano - terem continuado lá depois da minha saída, quando eu sou sempre o último a terminar as provas, deixou-me muitas desconfiancas... O resto é esperar.

tirsdag, mai 30, 2006

Lars Saabye Christensen

Li na Origem das Espécies sobre uma entrevista feita no programa Pessoal e... Transmíssivel, da TSF, e de como se obtinham os programas em podcast. Com saúdades da língua portuguesa na voz grave dos radiofonistas, e também do programa, porque era bom e interessante, acabei por experimentar. A entrevistada do último programa tinha uma voz irritante, vai daí fui ver aos arquivos se havia alguém interessante. Houve um nome que me chamou a atenção, por ser tão norueguês. Lars Saabye Christensen. Confirmei, sim, é o autor de Hermann, que a minha tia madrinha anda a ler/ leu, e o qual me mencionou por eu me encontrar nestas terras nórdicas. O programa é interessante como quase sempre - convidados interessantes, perguntas interessantes -, apesar de Carlos Vaz Marques não saber que aa se lê ó, e que o nome é Larshe Sóbi Kris-Tãnsane, ou com fonética parecida. Como ele referiu o norueguês não é língua que muita gente conheça. O que me encheu de orgulho e levou-me a requisitar aqui na casa um livro do afamado escritor. Para já tenho Bly (Chumbo) nas mãos, vamos a ver ao que leva. Estou entusiasmado.
Em Portugal está traduzido pela Cavalo de Ferro, onde se pode encontrar Hermann e Beatles. Quem quiser ficar a conhecê-lo melhor, o programa é do 7/3/2006.

tirsdag, mai 23, 2006

há cem anos...

... morreu o fundador do teatro moderno. No Diário de Notícias, The Guardian, uma frase no New York Times, e, no caso improvável de saberem norueguês, no Dagbladet e Aftenposten. Falando em blogues portugueses foi também lembrado no Estado Civil e no Mundo Pessoa. Já aqui tinha falado dele, mas não podia deixar de mencionar a efeméride.

mandag, mai 22, 2006

a teoria do fútebol

O fútebol é, muito mais provavelmente do que a Carlsberg ser a melhor cerveja do mundo, a matéria que súscita mais comentários, demonstrações, teoremas, hipóteses, provas e leis dos mais diversos especialistas em redor do globo. E entre os "especialistas" contam-se diversas categorias, passando pelo espécime intelectuelóide que não consegue conviver, nem que seja por um domingo, com uma fiada de palavrões escorrendo de bocas rúdes, com barba por fazer, ao espécime plebeu que engole umas "louras" com tremoços, gesticula e insulta o árbitro, tem uns quantos ataques nervosos e morre de enfarte do miocárdio mas se pudesse ressuscitar diria, certamente, embora ainda meio zonzo: fútebol é a melhor coisa do mundo. Se reunirmos os variados artigos publicados nos mais diversos meios da especialidade, nomeadamente as gazetas A Bola, O Jogo e Record, numa Explicação Sistemática do Fútebol, obteríamos certamente uma apreciável massa de papel.
Capítulo 1, Sobre arbitragem - Teoria da Relatividade Restrita: Proposição 1 - Todos os homens se enganam (excepto caso se trate de Cavaco Silva). Proposição 2 - Os árbitros também são homens. Proposição 3 - Os árbitros também se enganam. Devem-se julgar os erros do árbitro em função da sua súsceptibilidade ao erro. Os erros têm uma gravidade relativa. Esta teoria é válida segundo a estirpe "levem as coisas com calma", mas nunca foi muito bem assimilada pela sociedade, e os críticos dizem que é demasiado lógica para o fútebol. Teoria da Relatividade Absoluta: Em relação à Teoria da Relatividade Restrita acrescenta-se que: faltas marcadas a favor da nossa equipa estão correctas; faltas marcadas contra a nossa equipa estão erradas. Erros são geralmente maquinações dos presidentes das equipas adversárias que, socorrindo-se de fundos monetários e bens afins corrompem os árbitros. Paradoxo das nomeações: Caso estejam em vigor as nomeações dos árbitros, a Liga é corrupta porque a escolha do árbitro x é inadequada para arbitrar o jogo grande y; caso estejam em vigor os sorteios, os árbitros deviam ser nomeados porque a escolha do árbitro x é inadequada para arbitrar o jogo grande y.
Capítulo 2, Sobre os treinadores - Primeira Lei do Adepto de Rua: Em caso de derrota os treinadores são os culpados. Adenda primeira: Os jogadores também, mas é mais fácil despedir os treinadores. Adenda segunda: Os presidentes também, e saem logo que possível. Valorização do treinador: Os treinadores são apreciados na chamada escala figurativa Mourinho. Esta escala é figurativa porque não recorre a valores numéricos. Exemplos: Adriaanse deve pensar que é o Mourinho!; José Peseiro pode muito bem ser o novo Mourinho; Antes o Mourinho [em vez do Scolari]!; Também não é nenhum Mourinho... Hipótese do Treinador de Bancada: Se as coisas correm mal o treinador de bancada tem sempre razão e é válida a lei do "Eu bem avisei". Se as coisas correm bem é válida a lei do "Foi o que eu disse".
Capítulo 3, Sobre os presidentes - Lei da Idade: Todos os presidentes rodam no poder, nas salas dos tribunais e nos comentários jocosos dos adeptos. Excepção à Lei da Idade ou Lei do Adepto Portista: Pinto da Costa roda apenas nos tribunais. Lei da Censura: Estão proíbidas críticas a Pinto da Costa. Teoria das Probabilidades (aka Azevedo, segundo o ex-presidente do Benfica): O mais provável é o presidente do clube ser corrupto com efeitos internos e/ ou externos.
Capítulo 4, Sobre os jogadores - Segunda Lei do Adepto de Rua: Em caso de vitória tanto os jogadores como os treinadores são culpados. Adenda Primeira: Mas os jogadores têm mais mérito que os treinadores. Excepção Mourinho: As equipas de Mourinho ganham por um factor extra, geralmente denominado Factor Mourinho. Valorização do jogador: Os jogadores podem ser comparados a vários extremos: em caso de violência, Paulinho Santos/ Tahar; em caso de teatro como forma de ludibriar o árbitro e induzir a falta, João Vieira Pinto; para jogadores actuais, Ronaldinho Gaúcho; para jogadores antigos, Maradona ou Pelé (potencialmente outros nomes surgiram, como Garrincha); para jogadores nacionais, Eusébio ou Figo. Lei da Indução da Falta: O jogador adversário que induza a falta é "mau jogador de fútebol"; o jogador da nossa equipa que induza a falta é "inteligente", "astuto".
Capítulo 5, Sobre os comentadores e jornalistas - Teoria Gabriel Alves: O fútebol é para ser relatado com recurso a metáforas. Qual Cesário Verde, os pormenores são descritos com um detalhe impressionante: "Sobre a relva, esse rectangular manto verde e fresco, escorrem gotículas de chuva que o sol da tarde não apagou". Gramática Futebolística e Lei da Redundância: Envolve diversas expressões características como: está a jogar um jogo muito vertical (realce-se o pleonasmo), o tempo regulamentar está a chegar ao fim (referindo-se aos 90 minutos, já que o prolongamento e os descontos não estão previstos nas regras, são invenções momentâneas de árbitros que até estão a gostar de ver o jogo), etc. Teoria da Isenção: Os comentadores presumem-se isentos até dizerem algo contra a equipa que defendemos; na verificação dessa presunção são aplicáveis teorias incomuns, como a da Relatividade Restrita. Teorema de Pitágoras: O rectângulo de jogo não envolve dirigentes quadrados ou bolas quadradas ou A bola é redonda, qualquer um pode ganhar. Teoria do Conteúdo: Se não houver certezas, avançam-se hipóteses. Referência - Dialecto Perestrelo: Conjunto de expressões que inclui Ripa na Rapaqueca.
Capítulo 6, Sobre os adeptos - Teoria da Razão: A equipa do adepto tem sempre razão. Ver Teoria da Relatividade Absoluta. Teoria do Treinador de Bancada: A melhor táctica é a do adepto. Teoria do Jogador de Playstation: Até eu marcava aquilo; Versão Perestrelo: "Até eu, com a minha barriguinha, ia lá e marcava". Teoria do Patriotismo: Ser patriota é torcer por Portugal no dia do jogo. Aceitam-se críticas em caso de derrota e em prognósticos, mas nunca durante ou em caso de vitória. Pode ou não incluir bandeira Made in China na varanda. Teoria dos Adeptos Chique: Fútebol e tauromaquia são coisas desse povo brutamontes que não tem categoria nenhuma. Estar vivo é o contrário de estar morto. Teoria dos Adeptos Chique que Foram Entrevistados e Até Querem que Portugal Ganhe: Eu não vejo muito fútebol, mas torço por Portugal, e até já tive uma paixoneta pelo Figo. Teoria dos Adeptos do Verdadeiro Fútebol: Estamos fartos de presidentes, jornalistas, conferências de imprensa, novelas de transferências. Queremos ver bom fútebol. Teoria dos Adeptos do Verdadeiro Fútebol mas, Acima de Tudo, do Seu Clube: Estamos fartos de presidentes, jornalistas, conferências de imprensa, novelas de transferências. Queremos ver bom fútebol, desde que o nosso clube ganhe.

søndag, mai 21, 2006

haleluia, hard rock

O Festival Eurovisão da Canção, conhecido entre os noruegueses como o Grand Prix, é aqui levado com uma insana seriosidade. O espectáculo, chamemos-lhe assim, é uma das coisas mais deprimentes que se faz na Europa, e que parece ter como objectivo ser uma montra para cada país expor o que de pior consegue fazer. As músicas são muito, muito más, mesmo sem contar com as Non Stop que Portugal apresentou - Jesus Christ, what is that? O 12 de Portugal parece que foi para as pernas da ucraniana com a tal mini-saia, as ex-repúblicas soviéticas trataram de arranjar um segundo lugar à Rússia mas, felizmente, foi a Finlândia que no final saiu premiada.
Como já disse, o Eurovision tem pouco que capte a minha atenção. Na verdade só vi porque por este país nórdico o Eurovision tem direito a comentários prévios, entrevista à cantora na Magasine, suplemento do diário Dagbladet, e até a um programa onde púde ver alguns dos países das semi-finais, comentados por um grupo de júris jocosos - como aqueles a que a Eurovision pré-dispõe - que descreveram a exibição nacional - e como eu concordo! - com escassas palavras - não sabem cantar. Mas quando há alguma coisa diferente como a Noruega o ano passado, e a Finlândia este ano, surpreendo-me.
A Finlândia levou este ano uns monstrinhos cheios de maquilhagem e máscaras bizarras, líderados por Mr. Lordi. Fizeram aquilo a que chamam "melodic 80s hard rock", com o refrão "hard rock haleluia" - e a música era, na verdade, bastante boa, para quem goste do género. Não era nenhuma daquelas tretas de raparigas a cantar esganiçadamente (Portugal), nem era o tipo que parecia que tinha vindo de beber umas cervejas com os amigos directamente para o Festival (Rússia), nem o outro que intermediava com rap um coro de britânicas rapariguinhas de escola girando sensualmente sobre as secretárias individuais (Grã-Bretanha), nem quatro pacotes de Ketchup vermelho cantando horrosamente uma música horrenda (Espanha).
My twelve points sure could be Finland's - if I would care enough to vote.

torsdag, mai 18, 2006

poucos dias depois

O meu comentário ao post: O que é a Noruega: "AH eu sabia! Agora este post aparece na primeira página das buscas mais relevantes do blogsearch. É preciso apenas ser irónico, um bocadinho hipócrita e escrever a palavra Noruega 200 vezes... ", depois de ter escrito nesse mesmo post: "Ontem decidi pesquisar, através do blog search (versão beta já lá vão uns tepos), blogues que falassem da Noruega. Para mim quase todos os textos que aparecem primeiro sejam extremamente irrelevantes, mas presumo que o blogger tenha um automatismo qualquer para assim ordenar os posts colocados. Não me importa nem surpreende - a maioria dos blogues falam de banalidades e das coisas que toda a gente sabe ou suspeita; falam do que lêem dos jornais e das perspectivas dos utilizadores que, geralmente, são as mesmas que se podem ouvir em qualquer café, cabeleireiro, ou numa conversa de vizinhos enquanto sobe o elevador." Talvez se:
Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega Noruega .
Deve ser suficiente. Se isto resultar só tenho que experimentar com as palavras Núas, Boas e Porno, depois esticar-me bem na cadeira e ver o contador de visitas subir vertiginosamente.

onsdag, mai 17, 2006

russetia

Russetia, ou, bem escrito, Russetid ou Russetida quer dizer o Tempo dos Russ. Os Russ são os finalistas do secundário, que na Noruega dura 13 anos. Depois de algumas festas para aquecer durante o ano, é na noite de 31 de Abril para 1 de Maio que vem a primeira festa a sério. Embora eu estivesse em Levi nessa altura, foi feita uma verdadeira Russefest, em que os Russ foram baptizados - bebendo qualquer coisa que não fazem a mínima ideia do que é e que pode conter álcool, Coca-Cola, ovos, ou qualquer outra coisa que a imaginação permita. Depois existem as knuteregler. Mas para explicar o que é isso das knuteregler, é melhor por começar por descrever os uniformes.
Os uniformes consistem de calças largas e com a cor do russ (azuis, verdes, vermelhos - o meu caso, disciplinas gerais...) e negros (os de mecânica)), que podem ser género jardineiras (mas não se usam as tiras sobre os ombros, mas sim descaídas à frente, calças essas que têm muitos bolsos e podem ser, geralmente são, decoradas com desenhos (aqueles pontos brancos que se veêm na fotografia), que se imprimem nas calças com um ferro de engomar; também muito importante são os chapéus, també
m eles da cor de cada tipo de russ, com uma viseira negra na qual se escreve o russenavn (a alcunha do russ) a corrector; do topo do chapéu sai um fio muito comprido. Ao longo desse fio vão sendo atados objectos, que representam o facto de um russ ter realizado um "desafio" - uma knuteregl (regra de nó). O equipamento não está completo sem uma camisola que diga Russ 2006, e ainda um apito, para fazer barulho quer os russ estejam na rua ou nas festas.
Voltamos às knuteregler. As knuteregler é um conjunto de desafios da qual um russ se pode gabar colocando um representativo objecto no fio. Eu tive muitos testes e trabalho, por isso não fiz muitas. Aqui vão as que eu fiz:
1- Tomar banho no rio Norkjos antes do príncipio de Maio - pau de gelado;
2- Comer seis ovos kinder e construir os brinquedos em oito minutos - brinquedo kinder;
3- Andar para trás nas escadas durante um dia - atacador de sapatos;
4- Sentar-se debaixo da mesa durante uma aula - lápis;
5- Falar uma língua estrangeira durante um dia (eu falei português! ninguém percebeu...) - bandeira de Portugal (neste caso);
6- Parar um carro e fazer 10 flexões à frente dele (um amigo meu fez o mesmo os ocupantes do veículo riram-se; quando eu fiz eles bufaram e aproximaram-se de mim até estarem apenas a 10 cm... azares!) - cápsula vitamínica;
7- Comer metade do cartão russ (hmmm... o que é um cartão russ? Explico já a seguir...) - a outra metade do cartão;
8- Não beber álcool durante uma semana (isto porque não fui a nenhuma festa... #¤%&/() para os testes) - palhinha de plástico;
9- Fazer ginástica com roupas Russ;
10- Eu sei que fiz 10, mas não me lembro agora qual era esta... depois faço um update. De qualquer das formas havia muitas que queria fazer e não fiz por falta de tempo, como responder às perguntas da aula no estilo Jeopardy, começando tudo com um Pling, andar um dia atado a outro Russ, comer no parque da escola, dormir fora, ir para a escola de pijama, etc. Depois havia as mais polémicas knuteregler - os Russ inundam os jornais locais e nacionais com debates de ética todos os anos - sobre sexo e álcool, por exemplo beber 18 cervejas com dois amigos numa cabine telefónica, ou fazer sexo com um russ de Tromsø.
Os russekort são os cartões de apresentação dos russ, oferecidos por nós a toda a gente que quiser receber um, por vezes com dedicatórias. As crianças em idade de primária/ príncipio da preparatória fazem colecção e "perseguem-nos" por mais uns cartões. É muito divertido:).
Há mais coisas para contar, mas talvez noutra altura, porque hoje é 17 de Maio, dia nacional da Noruega, e o jantar de festa aproxima-se.

søndag, mai 14, 2006

o que é a Noruega

Ontem decidi pesquisar, através do blog search (versão beta já lá vão uns tepos), blogues que falassem da Noruega. Para mim quase todos os textos que aparecem primeiro sejam extremamente irrelevantes, mas presumo que o blogger tenha um automatismo qualquer para assim ordenar os posts colocados. Não me importa nem surpreende - a maioria dos blogues falam de banalidades e das coisas que toda a gente sabe ou suspeita; falam do que lêem dos jornais e das perspectivas dos utilizadores que, geralmente, são as mesmas que se podem ouvir em qualquer café, cabeleireiro, ou numa conversa de vizinhos enquanto sobe o elevador.
Começa com um post que fala sobre todos os factos da Noruega que podem ser encontrados em vários sites, e que até podia ter feito parte das minhas leituras pré-chegada-à-Noruega. Quem quiser que leia, mas encontra-se melhor informação com pesquisas em Googles e Wikipedias afins. O post seguinte fala um pouco da "primavera" norueguesa, que chega tarde e a más horas, e do tempo em Bergen, conhecida por ser a "cidade da chuva". Depois seguem-se variados textos que mencionam notícias de jornais em que a Noruega é figurante, e que são a verdadeira razão que levaram este texto a começar com uma crítica ao sort by irrelevance do blogger.
Um post num outro blogue, escrito e realizado por uma americana do New York Times que devia ter muita dor de cotovelo, deixou-me surpreendido: "os acervos das bibliotecas estão terrivelmente desatualizados e as piscinas públicas precisam desesperadamente de manutenção". Eu não vivo em Oslo, vivo numa região bem mais mal tratada, o Norte, aquela parte da Noruega de que toda a gente se esquece, até Portugal, que têm vários consulados aqui mas todos de Bergen para baixo. Sei que em Asker, onde passei as duas primeiras semanas da minha estadia, e que fica nos arredores da capital, foi criada recentemente uma nova e gigante biblioteca, com mais do que todas as condições necessárias, de tal forma que me levou a perguntar - existe assim tanta gente que frequenta bibliotecas na Noruega (Asker era relativamente pequena)? A biblioteca local tem os cheiros de um hospital e parece realmente ter ficado esquecida no tempo, até porque os computadores não são propriamente rápidos, e as lombadas dos livros não estão informatizadas. Mas a biblioteca local serve uma população mínima, e até me espanta o facto de existir. A biblioteca da minha escola, uma escola pequena com um par de centenas de estudantes apenas, é muito boa e recebe livros regularmente.
A escola deste lugar onde vivo também está velha, devido à distribuição do investimento local, mas porque aqui as coisas funcionam, uma aliança com o clube de desportos local - é assim que as coisas funcionam, os pavilhões de desporto das escolas são usados pelos clubes e vice-versa - permite a esta escola ter piscina e ginásio próprios. O próprio clube vai adquirir um relvado sintético no valor de 5 milhões de coroas devido ao retorno gerado pelas apostas e ao dinheiro do munícipio. Um clube cuja equipa sénior de fútebol luta para apresentar 3 suplentes no banco, mas ao qual estão ligadas quase todas os jovens daqui, no fútebol e/ou no andebol.
"Uma imagem em especial ficou na minha mente. Em uma aula de língua norueguesa, minha professora ilustrou o significado da palavra "matpakke" (lanche embrulhado) pegando em sua mochila um sanduíche embrulhado em papel. Era seu almoço. Sim, os professores são mal pagos em todo lugar. Mas na Noruega o "matpakke" é generalizado, das salas de aula às salas de diretoria." Ok, vamos fazer uma coisa clara. O "matpakke" é uma coisa que ficou dos tempos em que os noruegueses ainda eram pobres. O primeiro-ministro também o usa e tem muito pouco a ver com riqueza - está a começar a ser descartado por alguns jovens, impregnados da cultura urbana.
E as críticas aos impostos também me surpreendem. Afinal de contas o que é que os Estados Unidos sabem disso? A Noruega tem acrescentado dinheiro aos cofres para se proteger nos tempos fúturos - numa notícia em Portugal dizia-se que o dinheiro que a Noruega já acumulou podia ser usado para manter Portugal durante anos sem qualquer receita. Ao mesmo tempo dinheiro do estado e impostos sobre produtos estrangeiros são utilizados como forma de manter em actividade os noruegueses que vivem por exemplo, da agricultura. Porque todos têm direito a viver bem. Não existe, praticamente, desemprego. A Noruega é um país pequeno que não entrou na UE para se proteger contra os "países grandes" e apresentar assim uma economia competitiva pelo menos a nível local. Não é um país que ande para aí a invadir outros. Mas mesmo assim, porque a distribuição é feita de uma forma eficiente, os sem-abrigo são raros e o crime é quase inexistente.
Os noruegueses têm um grande patriotismo, prova disso é a forma entusiástica como comemoram o 17 de Maio - a seu tempo ficarão a conhecer estas festividades. E há muitos que estão preocupados com o facto de terem uma posição demasiado positiva. Estão preocupados com o fúturo e com o fim do petróleo. Mas isso não quer dizer que achem que a Noruega é a maior, pois consideram-se um país pequeno, que tem que se proteger do mundo e cujo petróleo tem que ser usado para criar alternativas de fúturo.
A Noruega é, em primeiro lugar, um país onde reformas sociais essenciais foram tomadas muito antes de muitas outras democracias - e antes do petróleo - e onde a igualdade entre homens e mulheres é mais do que vísivel. A Noruega é um país onde há poucos ricos, sim, mas também há poucos pobres. E é preciso uma consciência muito estranha para preferir a isso um país onde a falta de cultura nos entra ecrã adentro - basta o Tonight Show do Jay Leno -, a criminalidade é brutal e as desigualdades são suficientes para ditar um lugar muito atrás da Noruega nas estatísticas da ONU.
Desculpem este post, mas há coisas que me enervam, e esta crónica foi uma delas.

fredag, mai 12, 2006

life is an old man

Comecei um blogue de arte... Chama-se suppose (life is an old man) Está a precisar de uma alteração de template, está ainda a nascer, e é provável que não sobrevive durante muito tempo, porque os meus projectos são assim. Mas merece uma visita - penso eu de que. É só clicar aqui.

onsdag, mai 10, 2006

porque o mundo não é a preto e branco

Pró ou Contra.
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Eu não me pronuncio, só sobre o mundo não ser a preto e branco.

mandag, mai 08, 2006

trampolina

Pois é, pois é, a relva ainda não tem aquela verdura, as crianças já cresceram um bocado, mas sim, temos uma vivenda, um jardinzito e um trampolim.
Por estes dias tropicais, com temperaturas acima dos 20 graus, ainda que se agoirem chuvas e sludd (um quase neve...), o pior que aconteceu esta segunda foi o céu ficar núblado. Mas o espírito de ficar lá fora, sob o toldo, relaxando continua vivo. E agora que o Verão chegou, logo a seguir ao Inverno, sem Primaveras nem Outonos de premeio - a bom dizer o Verão norueguês é uma Primavera ou um Outono, não exactamente um Verão - os trampolins voltaram aos jardins, as crianças voltaram a saltar e os jovens e eu também, jogando fútebol dentro do recinto, o que é realmente uma experiência única...
Enfim, crescer para quê, quando do outro lado da janela existe um trampolim?

lørdag, mai 06, 2006

you know what i mean

tirsdag, mai 02, 2006

reportagem no Nye Troms

O jornal local Nye Troms, que é editado na região de Troms na Noruega, públicou hoje uma entrevista comigo e com o Aslan, outro AFSer - estudante de intercâmbio, a viver aqui neste lugarzito no concelho de Balsfjord. Aqui está, traduzida para português, comentários em parêntesis recto.
Isto é a AFS:
A ideia por detrás do American Field Service (AFS) é que a paz e o entendimento entre diferentes culturas é criado quando se visita e se vive em casa de outras famílias de outros países. A Noruega envia e recebe muitos jovens todos os anos, e para os próprios jovens e famílias de acolhimento respectivas torna-se esta uma experiência inesquecível.
Todo o trabalho na organizacão é voluntário, e a família de acolhimento não é paga para receber os estudantes. Os livros da escola, viagens e uma pequena mesada [não é tão pequena assim e é dada pelas famílias não pela AFS] é dada pela AFS.
Para além da família de acolhimento o estudante tem também uma família de contacto que pode ser usada por exemplo quando a família de acolhimento está ausente [e o estudante não a pode acompanhar.]

Um ano único em Balsfjord
Aslan (19) da Bélgica e André (eu) (17) de Portugal não se conheciam antes de virem de Oslo em Agosto do ano passado. Mas tinham algo em comum, o facto de serem estudantes de intercâmbio na mais antiga e maior organizacão desse tipo de experiências no mundo, American Field Service (AFS).
- O especial com estes rapazes era que eles ainda não tinham recebido família de acolhimento quando chegaram à Noruega, não sabiam onde iriam, diz a mãe de acolhimento Karin Os rapazes acenam em acordo.
- Foi assustador ver no mapa o quão norte nós iriamos parar, ri-se André que acreditava que Balsfjord era quase um deserto de gelo.

Pequena storsteinnes
Um par de semanas depois da chegada a Oslo ficaram a saber que duas famílias de acolhimento esperavam excitadas por eles. As famílias moravam perto uma da outra, no pequeno lugar de Storsteinnes. Apenas nove meses depois podem os rapazes contar como se dão bem.
- Este lugar é acolhedor. Pequeno, mas muito melhor que estar em Oslo, conta A. O. [Ele não disse que era muito melhor que em Oslo, mas que em Oslo haveriam outros problemas...].
- Há muito para fazer. Innebandy [espécie de hóquei jogado dentro de um pavilhão, sem patins], fútebol, UngA [actividades para jovens], esqui são algumas das coisas em que estivemos envolvidos, acrescenta André, que segundo a mãe de acolhimento Rigmor é louco por fútebol.
- Eu apenas caí e caí a primeira vez que tentei esquiar. E depois parti a minha stave [aquela coisa com que nos apoiamos nos esquis, como é mesmo em português?], sorri Aslan. Agora, porém, as coisas vão muito melhores, e na páscoa houve muitos passeios de esqui [A minha evolucão foi semelhante, tirando o facto de eu não ter partido nada.]

Queria experimentar algo de novo
Nye Troms [nome do jornal] encontrou os rapases em casa de R. e L., onde A.C. tem sido o quinto elemento na casa há algum tempo. Foi bastante por acaso que A.C. veio parar aqui exactamente este ano, contam eles.
- Karin e eu tinhamos falado que poderíamos tentar um ano como família de acolhimento, mas ainda não tinhamos concretizado esses planos. Mas eram precisas famílias de acolhimento, e decidimo-nos tentar. Foram apenas 10 dias desde que nos decidimos até que os rapazes nos chegaram, sorri Rigmor. Ela aconselha largamente outros a receber estudantes de intercâmbio.
- É excitante e diferente, e uma pessoa aprende muito. Mas as pessoas devem lembrar que este este é um trabalho voluntário. Nós providenciamos custos e logística, e em troca recebemos um ano inesquecível.
- Uma pessoa deve esperar uma pequena adaptacão ao príncipio, mas essa fase passa depressa, diz o pai de acolhimento Leen.
- Nós tivemos que pedir o conselho da família primeiro, as nossas criancas Edvard e Regine tinham claro que dizer se achavam que estava bem, diz Rigmor e está satisfeita pelo facto de Edvard se ter tornado muito bom em inglês.
- Ele fala apenas inglês comigo, e eu falo norueguês com ele, revela André. Quer ele quer Aslan falam agora muito bom norueguês, mas à pergunta se foi fácil aprender a língua rompem às gargalhadas.
- Língua estranha e díficil, e o dialecto de Balsfjord é bastante diferente do de Oslo, é a resposta.
- Nós estávamos convencidos de que eles deviam aprender a língua o mais rapidamente possível, e eles têm-se tornado bons. Eles falarão certamente dialecto de Balsfjord quando regressarem a casa, ri-se Karin.

Turma simpática
Ambos os rapazes andam na escola secundária de Vollan, cada um em sua turma. André pensa que foi díficil, ao ínicio, introsar-se com os colegas de turma.
- Mas depois de uma viagem de escola tornou-se melhor. De qualquer forma é um bocado diferente ir à escola aqui e em Portugal. Estou mais habituado a educacão nas salas de aula, diz o português.
Aslan gostou da escola desde o primeiro momento.
- Eles são muito abertos e simpáticos, sorri ele abertamente.

Muito natal
Eles não se têm coibido das actividades de tempo livre para estudantes. Tem participado de udo deste conducão de trenó de cães, trabalho na quinta, viagens, desporto até à visita ao hotel de gelo. Sem esquecer duas épocas festivas: o natal e apáscoa.
- O Natal aqui é tão comprido. E tão cheio de coisas de natal. Ribbe de Natal [prato típico de Natal], decoracões de Natal, Grøt de Natal [Um prato comido à sexta feira antes do fim-de-semana de Natal; quem tiver no seu prato a amêndoa escondida ganha um prémio, como por exemplo um saco de gomas e chocolates.] Tudo era Natal, diz André com um sorriso que testemunha que ele gostou precisamente disso. Em Portugal a celebracão do Natal propriamente dita só se festeja 24 e 25 de Desembro.
- Nós nem temos presentes na Bélgica, apenas jantamos com a família, conta Aslan, que pensava que o tempo escuro [mørketiden] seria tão escuro como a noite.
- Mas não era. O céu estava cheio de cores lindas e nós vimos as luzes do norte [aurora boreal].
- Mas fiquei muito contente por ver o sol outra vez, acrescenta André. E agora vem aí o tempo russ [celebracões dos finalistas do secundário] e o sol da meia noite.
- Eu acordei uma manhã cedo com o sol a brilhar para mim. Foi estranho, diz Aslan.

Trabalho doméstico e outras coisas
Algumas diferencas culturais têm-se apresentado pelo caminho.
- É claro que existem diferencas e contrastes culturais. Acho que por exemplo os rapazes em Portugal não estão tão habituados a trabalho doméstico [olha para mim a corar...], sorri Rigmor sagazmente para André. Quer ele quer Aslan estão de acordo em terem aprendido trabalho doméstico durante a estadia na Noruega. Em Portugal é normal ajudar em casa, se acreditarmos no André [é verdade! Todos os filhos e filhas são obrigados!!!].
- E eu tenho muitas irmãs, desculpa-se Aslan.
- Eu tenho feito comida. Especialmente sobremesas doces, acrescenta André.
- E comida portuguesa como muito mandarim [ele disse margarina, margarin em norueguês, e referia-se às sobremesas; eu nunca usei mandarins na comida!], diz Edvard com um gesto.
A comida na Noruega é bastante razoável, se interpretámos bem os rapazes [não, não interpretaram, eu acho que é melhor do que o que esperava, o Aslan odiou, mas não se atreveu a dizê-lo directamente].
- Mas o chocolate de leite é o melhor de tudo, acho eu. De resto estou um bocado farto de bolas de carne, concorda André.
- O melhor que aqui comi foi Ribbe [Ribbe de Natal, Juleribbe, ver acima], e lembra-se da Ribbe de Natal.

Um ano passa depressa
Os dias passam imparáveis até Julho, o mês em que ambos os rapazes regressam a casa. [Eu regresso em Junho, no final...]
- Vai ser estranho quando eles forem. Felizmente é fácil ter contacto com eles, via internet, dizem Karin e Rigmor. Com a webcâmera o contacto tem-se estabelecido nas duas direccões, e Rigmor conta que a família de André esteve presente na véspera de Natal, gracas à webcâmera na sala.
- Não é assim tão longe até Portugal. Costumava ser mais longe, diz André.
Os rapazes não tiveram, porém, saudades de casa [ok, um bocadinho...].
- O tempo passa inacreditavelmente depressa, especialmente depois de Janeiro. Nós temos tido muito que fazer, dizem. E ambos prometem regressar à Noruega em férias. Mas antes de partirem vão festejar o dia nacional da Noruega. Quando a jornalista pergunta Aslan se ele irá participar do comboio [espécie de procissão, mas sem religião à mistura], é a confusão grande durante um momento [não para mim, só para ele, que eu já sabia do “comboio”].
- Ir no comboio, não conduzir o comboio, diz a “mãe” Karin. E é então que ele compreende.

next blog

Ok, há coisas que se têm que dizer. Shimah traditional malay massage é o nome de um fantástico blogue de uma companhia de massagens malaias, daí o nome. O blogue é muito bom até na descrição: "We provide good services for our customers.This services is for health and beauty. Our business:11 a.m-11p.m."
E a pérola, a fantástica pérola que se segue é de ver e chorar por mais:
"Everyday for women Everyday for men".
Até os títulos têm sotaque. Contactz, Servicez, e outraz coisaz que taiz.
Mas também se encontram por aí blogues interessantes. Às vezes dou-me de cara com eles sem estar à espera. Geralmente saltito de blogue em blogue pelos links ou pelos comentários, e acaba-se por achar coisas bastante interesantes...
Mighty Optical Illusions - sobre ilusões ópticas e Creative Criminal e Advertising/ Design Goodness- sobre design publicitário, foram três dos últimos exemplos. Todos os interesses são abrangidos na blogosfera, para quem procura bem...

Alguma sugestão?

onsdag, april 26, 2006

tempos conturbados

Até cerca de 18 de Maio não se esperem muitas actualizações neste cantinho da blogosfera. Acontece que este é um período bastante preenchido. As comemorações Russ, como finalista do secundário, começam já a 1 de Maio, e no próximo fim-de-semana vou estar em Levi, na Finlândia, numa nova tentativa para praticar slalom. As comemorações devem terminar apenas a 17 de Maio, e nesse período tenho três helldagsprøver (provas que duram o dia inteiro) em Física, Matemática e Química, e um teste normal (Psicologia), tudo disciplinas da maior importância para a minha pessoa. 17 de Maio é o dia nacional da Noruega, tempo de celebração, bandeiras à janela, procissão atrás da banda, festa e arraial e comer gelado com fartura - segundo tenho sido informado...
Entretanto deixo-vos com umas quantas notas dispersas sobre literatura Norueguesa: Henrik Ibsen, o maior dramaturgo norueguês de todos os tempo, morreu há 100 anos, em 1906. Entre as suas obras mais famosas contam-se Peer Gynt, para a qual foi escrita a famosa banda sonora de Edward Grieg, o maior compositor norueguês de todos os tempos - podem neste poste ouvir o Hall of the Mountain King, a parte mais famosa, quando Peer Gynt, o sonhador mentiroso, foge de um certo rei... vão ver a história e depois contem-me - e A Casa de Bonecas, da qual vi uma interpretação reduzida e cómica e que conta a história de uma mulher que comete uma ilegalidade para salvar o marido, e cujo marido, apesar de ter sido salva, a repudia por ela ter cometido a tal ilegalidade, e também por. Esta personalidade que parece que tem uma biografia bastante interessante está por todo o lado na Noruega - já estaria omnipresente, mesmo sem a comemoração dos 100 anos da sua morte... Apesar de tudo não ganhou prémios Nobel, ao contrário dos gigantes literários noruegues Knut Hamsun, que escreveu a peça Benoni og Rosa, que assisti no Hålogaland Teater (e que agora tem em cena uma peça de Peer Gynt) ou Bjørnstjerne Bjørnson, poeta autor da letra do hino nacional da Noruega e terceiro laureado pelos Nobel. No Bokklubben, uma revista com as últimas novidades do mundo editorial, um dos destaques foi precisamente uma biografia de Ibsen, a "mais importante do ano". Porque todos os anos saem várias. O blogue Mundo Pessoa, feito pela Casa Fernando Pessoa, destacou uma edição da Cotovia de uma outra biografia de Ibsen - e elogiou o dramaturgo, considerando-o o pai da dramaturgia moderna.
Fiquem a saber que aqui na Noruega, para se ser um actor famoso, basta-se ser conhecido por ser um surbrebo intérprete de Peer Gynt.
Ora aqui vai o Hall of The Mountain King, das Suites de Gynt:

lørdag, april 22, 2006

a carta [ao passado]

Esta é uma carta que eu escrevo ao meu eu do passado, antes de vir para a Noruega, e vem no seguimento do post anterior. Por isso, antes de lerem este post, leiam o anterior, caso ainda não o tenham feito.

A viagem está quase no fim. Faltam escassos meses para voltar a Portugal, e as experiências foram mais que muitas. Enumerá-las todas seria exaustivo, e, do ponto de vista da minha querida mas falível memória, impossível, portanto vou apenas mencionar algumas.
O primeiro dia, na chegada ao aeroporto, estava completamente confuso. Pela segunda vez viajava de avião, a primeira desde os nove anos, e a primeira vez sozinho. Depois de 4 horas e de uma escala na Alemanha cheguei finalmente a solo Norueguês, com o coração a bater desalmadamente. Não encontrei a minha bagagem, e encontrava-me completamente perdido, mas acabei de me fazer amigo do largo grupo de AFSers tailandeses, acompanhados de monitores adultos - na verdade o único grupo acompanhado desde o país de origem, julgo eu. E foi assim que cheguei ao encontro dos outros AFSers, onde encontrei os voluntários da AFS, e me fiz amigo com a Anda, da Indonésia, que estava feliz por encontrar outra pessoa que também não tinha mais ninguém do seu país consigo, da Isha e do outro AFSer da Índia (primeiros AFSers da Índa na Noruega, depois de um longo interregno da AFS na Índia, do Mah Rek, ou qualquer coisa assim - chamem-lhe Mike - da China, e com o grupo de tailandeses, está claro. A espera ansiada pelos brasileiros, para falar Português revelou-se infrutífera, pois eles foram os últimos a chegar.
Quando cheguei ao primeiro campo AFS, estavam vários deles presentes. O campo foi uma fantástica semana, ao fim da qual fui viver em Asker, no sul, com a primeira família de acolhimento, temporária. Só lá estive 15 dias, quando o Øystein me foi buscar o mapa, para me mostrar onde eu ia passar a viver: lá bem no Norte, a uma hora de Tromsø, acima do Círculo Polar Árctico. Entrei em pânico, mas nos dias seguintes acabei por me habituar à ideia, e nunca mais vi o grupo coral que tinha sido a primeira actividade em que me inscrevi em Asker, para arranjar qualquer coisa para fazer.
À chegada ao Norte a família levou-me ao Peppes Pizza em Tromsø, para nos conhecermos, juntamente com Aslan e a família dele. Quando fomos para casa parámos para visitar o far (pai, em norueguês, para simbolizar pai de acolhimento), que trabalha por turnos, e estava precisamente a prestar serviço naquela noite. O primeiro dia na escola foi assustador. Não sabia onde é que devia ir, não percebia nada de norueguês, não sabia quem era a minha turma e as aulas já tinham começado há uma/ duas semanas. Perguntei, em inglês, a um grupo de pessoas que estavam na cantina se sabiam onde é que eu tinha de ir, se eram do terceiro ano, mas eles disseram que não e riram-se... Os primeiros tempos não foram fáceis. Tinha saudades dos amigos AFSers deixados no Sul, não conhecia ninguém na escola, nem percebia as aulas. Comecei a frequentar os treinos com a equipa de fútebol, mas não durou por muito tempo por causa da chegada do Inverno, e tivemos que esperar meses até começarmos a treinar dentro, no pavilhão.
Avancemos rápidamente, até ao Natal. A pouco e pouco as coisas vão-se compondo. Eu e o Aslan apoiámo-nos mútuamente na descoberta da Noruega, procurando coisas para fazer, aprendendo norueguês em conjunto. O Natal na Noruega é um espectáculo. Existe tudo de natal: cortinados de Natal, chá de Natal, café de Natal, marsipan (doces de amêndoa idênticos aos do Algarve mas não tão bons, acho que já os mencionei na crónica da páscoa) de Natal, cerveja de Natal, refrigerantes de Natal, bonecos de Natal espalhados pela casa. Um conjunto em semí-circulo de lampas eléctricas que se chamam adventslys e que estão ligadas, nas janelas de todas as casas, durante as quatro semanas do advento, não falta à festa. Escrevem-se e recebem-se postais de Natal. Existe um enfeite comum que consiste em espalhar uma certa espécie de especiarias sobre uma laranja, depois entrelaça-se com uma fita e pendura-se à janela por exemplo. O aroma é excelente. Eu fiz um, a fotografia está ao lado.
Para além da festa pré Natal, existe mais festa. No segundo dia de natal, segundo dia de natal, etc. (andrejuledag, tredjejuldag, etc.) existem mais festas e concentrações familiares. Até que chega o dia de Ano Novo. Quando bate a meia noite, toda a gente faz estalar no céu o seu próprio kit pessoal de fogo de artíficio, o que significa que se vê fogo de artíficio em todas as direcções durante quase uma hora, até toda a gente ter acabado.
Durante esta época estamos no tempo escuro - mørketid. No seu auge o dia resume-se a umas duas horas de luz azul. Durante dois meses não se avista o sol, mas durante um largo tempo disfruta-se da luz de pôr-do-sol ou de nascer-do-sol. Quando o sol volta é que nos apercebemos o quanto ele nos fez falta, e enchemo-nos de alegria, mas a luz cor-de-rosa que é emanada durante o mørketid é também excelente.
As férias de Inverno - vinterferie - chegaram depressa. Fomos a Abisko, na Suécia, onde púde experimentar slalom pela primeira vez, mas só na pista verde, mais fácil, porque estava doente e não púde ir todos os dias. Na semana seguinte viajei até à Polónia e à Alemanha. Mais uma vez andei de avião. Uma viagem de ida, e outra de volta. Contando com a viagem que fiz de Oslo até Tromsø, para vir aqui viver, já me posso considerar bem mais experiente nestas viagens aeronáuticas. Durante a viagem acabei por me entrosar também melhor na minha turma, ficar a conhecer dois países e ter a possibilidade de experienciar a violenta memória silenciosa dos campos de concentração.
Desde aí que jogo todos os dias Fang, uma espécie de poker sem dinheiro envolvido, à hora de almoço. Já aprendi vários jogos de cartas, como o President, o Idiot, o Fang, o Omber (jogo turco), o Truco e o Caixeta (jogos brasileiros) e também a Canasta. Entretanto visitei também um hotel de gelo na Suécia. Outras experiências incluem um passeio num trenó puxado por cães, o esqui que costumo praticar às terças feiras ou o Polarbadet, um complexo com piscinas, escorrega de água, jacuzzi, saúna, banho de bolhas, etc., tudo isto enquanto lá fora, pela janela, vemos a neve e o frio. Na páscoa, em vez de esperar a visita do padre a todas as casas da aldeia antes de me começar a deliciar com todos os doces sobre a mesa, fui esquiar na área ao pé da roulotte. Ainda me lembro da primeira vez que estive naquela área. Ainda não havia neve nenhuma. Eu tinha então apenas visto neve por duas vezes, uma na Serra da Estrela e outra na aldeia onde o pai nasceu, e só nesta última é que vi nevar - e a neve evaporou-se em poucas horas, e tornou-se água. Este ano tive largos meses cheios de neve.
Em breve vou com a família à Finlândia, para mais um fim-de-semana de slalom e/ou snowboard. E depois é o Russetid, o tempo de festa dos finalistas do secundário na Noruega. Para colecionarmos coisas para pôrmos nos nossos chapéus tradicionais Russ temos que fazer certos desafios, como por exemplo gritar Skål (À saúde) de 5 em 5 minutos numa aula, ou vir de pijama para à escola. O Russetid acaba a 17 de Maio, dia nacional da Noruega (a dissolução da união com a Suécia ocorreu nesse dia, no ano de 1905). Vai haver uma parada, vamos comer muito gelado, vai haver uma grande festa, as bandeiras vão súbir aos mastros nas casas dos patriotas noruegueses - há um mastro em cada rua. Depois pouco falta para o sol da meia noite. E depois chega Junho. Quando o tempo de testes e exames, que começa já daqui a duas semanas, acabar, já está quase na hora da despedida. A 1 de Julho tenho que estar em Portugal.
Às vezes quando penso no passado, nas pessoas que me chamaram maluco quando lhes disse que vinha para aqui, sinto-me orgulhoso. Às vezes quando penso no pouco que sabia, na nova língua que aprendi, nas novas experiências que tive, sinto-me completo. Recebi hoje uma carta tua, eu-do-passado, espero que estejas orgulhoso de mim.

a carta [com comentários]

Esta foi a carta que me escrevi a mim mesmo antes de vir para a Noruega. A AFS Portugal - Intercultura encarregou-se de me enviar durante o programa escolar em que me encontro. Eu esperava que ela viesse mais cedo, sensivelmente a meio do programa e não na recta final, mas aqui vai a transcrissão da mesma carta com comentários [em parêntesis recto e a azul] e com uma outra supressão. O próximo post é uma carta que vou escrever ao meu eu do passado. Foi escrita um bocado à pressa, portanto desculpem-me se não está muito boa.
God dagh! (É assim que se diz? :P [Não, não é assim, que se diz, é God dag!]
Isto é provavelmente a coisa mais estranha que já escrevi, mas provavelmente tu já escreveste coisas muito mais bizarras em mim. [Isto é uma daquelas frases que só eu compreendo.]
Para mim o futuro é uma incógnita. Sei que me sinto inseguro: não sei se o que vai acontecer tem algo a ver com o que neste momento prevejo.
Vais viver no meio da neve e do frio e espero bem que te divirtas.
Espero que aprendas tudo o quero aprender. Hás-de-me apresentar aos teus amigos...
Essencialmente vive pelo presente, pelo dia-a-dia, pela experiência.
Neste momento estou entusiasmado, o que será que me vai acontecer? Mais do que te escrever gostaria de receber uma carta tua.
Presúmo que a comida não deva ser o prato forte... [Não é.. mas há coisas boas, carne de rena, salmão, salmão fumado aos pequenos-almoços, pizza caseira, entre outras coisas.] Mas de resto tens que aproveitar aí o dia e a noite (especialmente a noite de mês e meio) porque acredita, ficar aqui parado em casa, ou simplesmente ficar nos limites do [que já é] conhecido... [Esta foi uma das razões que me levou a estudar um ano no estrangeiro - "ficar aqui parado em casa", quanto à noite longa já passou, agora o dia é mais largo que a noite e o sol da meia noite está próximo, acho que é a 20 de Maio que começa.] Aproveita e traz-me de volta montes de fotos. [Já vão aqui uns valentes megabyts de fotografias...] Inscreve-te em tudo o que conseguires. [Inscrevi-me no fútebol, participo nos UngA, é tudo o que consegui. Mas claro também tive bastantes treinos de esqui, e actividades não faltaram...] (É bom que por esta altura já te tenhas inscrito...)
Não estou habituado a escrever-me. Ai... Nem sei o que pensarás de mim.
Agora vou abrir os prognóstico:
-"Eh pá! Bela paisagem!" [Em cheio! Mesmo linda!]
-"Está fri-i-i-i-i-o..." [Uma pessoa habitua-se...]
-"Que noite longa..." [Já passou, e foi quando o dia voltou a chegar que eu me apercebi como as noites eram longas.]
-"Olha uma carta!" [Se era esta a carta a que me referia, então voltei a acertar em cheio.]
Sinto-me como uma estranha junção do Professor Karamba e da Maya neste momento, a tentar adivinhar o fúturo. Espero que lembres os campos AFS.
[...][Nesta supressão foram cortadas referências a campos AFS que vocês, que não estiveram lá, não poderiam perceber.]
Aqui em Portugal chegaram o Karyaka e o Andersson ao Benfica [O Karyaka, pelo menos, fez pouco mais do que chegar...]. Somos campeões! [Infelizmente, não por muito tempo...]. Começou a époda dos incêndios. [A tragédia de sempre, que chega também aos noticiários noruegueses, como vários deles me informaram] Houve um atentado em Londres [e os polícias que mataram o brasileiro indevidamente, com oito (!) balas, foram ilibados], já foi o Live8, decorre agora [a reunião d']o G8. [Resultou nalguma coisa em concreto, para além de medidas efémeras?] [...]
O mais díficil já foi [já???], agora é sempre a "bombar" [pois, esse é o problema, falta de tempo...] - não te deixes desanimar. Espero que a tua família esteja/ seja boa. [Está e é]. Have all the fun.
[Aqui vou eu para o norte, aqui vou eu cheio de pica, de Lisboa vou fugir vou p'rá neve da Noruega...]
UIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

torsdag, april 20, 2006

Tippeligaen

Tippeligaen é o nome do campeonato norueguês, e tem no nome (tippe - aposta) e no símbolo o evidente patrocínio da flax, marca de jogos de apostas na Noruega. A equipa pela qual estou a torcer, evidentemente é o TIL, ou Tromsø Idrettslag, a equipa de todos os noruegueses do norte. Na eminência de contratar Rushfeldt, um norueguês retornado que se apresenta que várias equipas se apresentaram interessadas em contractar, a grande estrela continua a ser Ole Martin Årst, melhor marcador da liga o ano passado e que marcou também o primeiro golo do TIL, na edição deste ano, na derrota por 3-1 frente ao Molde. Grandes atributos do Tromsø: eliminaram o Galatasaray da taça Uefa (eu estava lá, eu vi!!!), e perderam de forma extraordinária, a hipótese de se classificarem a partir da fase de grupos, ao deixarem escapar uma vantagem de 3 golos contra o Basel, da Suíça.
O ano passado a liga decidiu-se na última jornada, assim como há dois anos, terminando com Vålerenga, uma equipa de Oslo, a vencer o campeonato, depois de uma longa disputa pelo comando com o Start. O Rosenborg perdeu assim o seu domínio de 13 campeonatos consecutivos, para uma nada lisonjeira 7a posição, mesmo à frente do Tromsø, que com uma 8a posição falhou assim as competições europeias.
Entretanto, desde o ínicio do campeonato durante as férias da páscoa já decorreram duas jornadas, tendo o TIL perdido ambos os jogos. Como o campeonato é extremamente competitivo - desenganem-se os que pensem que o facto de o Rosenborg ter ganho tanto campeonato não signifique que os outros não tenham tido oportunidades até à última jornada - isso não é especialmente relevante.
Portanto agora é esperar, também pelo Rushfeldt e esperar que as coisas correm melhor.

onsdag, april 19, 2006

a páscoa do norte

Vamos lá a enunciar alguns pontos do que é uma páscoa tradicional na Noruega:
Esqui: A pedra basilar da época pascal é mesmo andar de esquis. No povo que se gaba de ter nascido de "esquis nos pés" ("ski på beina"), não há pai nem mãe que recuse viagens de esqui e arraste a família atrás de si. Os cintos e as mochilas vão repletos de termos com água quente, saquinhos de café e cacau instantâneo, refrigerantes, garrafa de água, kvikklunsj (quick lunch) - um chocolate snack que é parecido com o kit-kat que é o tradicional companheiro de viagem dos noruegueses - e matpakken (ou seja, o almoço, sandes devidamente embaladas em sacos preparados para o efeito). E está claro, também um estojo com vários produtos para aplicar aos esquis. Os esquis normais deslizam demasiado, e por isso convém aplicar certos produtos para que seja mais fácil súbir. Eu geralmente uso esquis smørefri, o que quer dizer que não precisam de nada para andarem muito devagarinho - ainda sou um iniciado...'
Påskekrim: Crime de Páscoa? O que é que a Páscoa tem a ver com crime? Segundo a mor ouviu na rádio, é porque na páscoa as famílias reúnem-se na cabana (cabanas de montanha e roulottes, como o nosso caso, são os sítios favoritos para passar a páscoa, a par de estâncias de esqui como a de Hafjell, em Lillehammer), e, como está escuro, e estão isolados, contam histórias de teroooooor... Desconfio muito da explicação porque: por um lado as histórias de crime envolvem uma trama de suspense e levam o espectador a tentar perceber as coisas antes do detective, não metem necesseriamente medo (ver Poirot); por um outro lado, o segundo, não está nada escuro, já existe sol até as 21:00. De qualquer forma haviam várias séries na televisão relacionadas com crime, e é, na Noruega, um tema pascal.
Galinha da Páscoa: Mais que o coelho da páscoa (påskehare), aqui vê-se galinhas da páscoa (påskekyllingen), embora ambos coexistam pacificamente e sem muitas discussões.
Ovo da Páscoa: O coelho é da tradição, mas a galinha põe ovos mesmo. Os ovos da páscoa aqui consistem de caixas ovais, pintadas por fora com galinhas e coelhinhos e outros motivos próprios, ou simplesmente com linhas e outros designs menos intuitivos, em que se depositam dentro várias godterie, ou seja, coisas boas - chocolates, gomas e marsipan (coisas feitas com amêndoa e que tem uma notória resemblance com os doces de amêndoa do Algarve, embora os portugueses sejam melhores) - para serem consumidas durante a época festiva. Podem ver aqui um bom exemplo.
Påskenøtter: São os desafios da páscoa. Tanto a NRK1 como a TV2, as duas estações que se apanham na roulotte, têm påskenøtter, embora a última lhes chame TV2-nøtter. Consistem de sketchs, por exemplo de programas antigos (NRK1) ou de humor (TV2), sobre os quais são feitas perguntas. Como se chama este cantor? Quem é o artista que canta esta música (aqui interpretada pelo pior músico da história dos Ídolos da Noruega)? Quando a pessoa regista todas as suas palavras vai ser formada, na diagonal (TV2) ou na primeira das colunas (NRK1), uma outra palavra, que pode ser enviada por telemóvel para a estação televisiva. Se estiver certa a pessoa habilita-se a ganhar prémios.
Nøtter pode querer dizer amendoins ou exercícios, consoante os casos.

lørdag, april 08, 2006

páscoa

Amanhã vou até à roulotte da família norueguesa, para uma semana de esqui cross country, aking (brincadeiras com trenós, enfim...), relax e natureza. Volto depois da páscoa, com o relato do hotel de gelo. Ontem experimentei isfiske (pesca no gelo) pela primeira vez. Usámos de uma grande coisa verde em forma de parafuso para arrancar um buraco dos talvez 50 centímetros de gelo que ali estavam... E depois foi pôr as canas de pesca bem lá no fundo, com as minhocas na ponta, canas essas bastante rudimentares, diga-se de passagem, um pau e uma corda enrolada à volta dele, pouco mais.
Uma curiosidade... Andaram aqui a vender túlipas para a páscoa, agariando dinheiro para os corpos, uma espécie daquelas bandas dos bombeiros voluntários, tirando o facto de não ser composta por bombeiros voluntários. Alguém sabe a relação entre páscoa e túlipas? Ainda não consegui perceber completamente, aceitam-se sugestões.
Acabei de ler o Marekors, de Jo Nesbø, estas férias começo a ler um outro livro que se chama Det nye vannet, A nova água, que deverá ser mais tarde interpretado na aula de norueguês.
Vemo-nos de segunda a oito dias!

torsdag, april 06, 2006

o sonho acabou

O Benfica perdeu ontem com o Barcelona, mas se pensam que este post é sobre fútebol estão redondamente enganados. Porque eu falo de sonhos. Quando o Benfica começou a sua campanha na Liga dos Campeões os aziagos por todo esse mundo fora diziam que eles iam ficar pela fase de grupos. Quando teve que lutar contra o Manchester United disseram "não tem hipóteses". Quando na rifa lhe saiu o Liverpool, "estava acabado".
Aqui na Noruega ninguém parecia achar que o Benfica tinha hipóteses. Nem dois amigos meus daqui, um do Liverpool e outro do Manchester, nem qualquer outro. Nem os comentadores que partiram para os comentários com uma prudência cortez que não disfarçava a firme certeza de que "dali não passará". Nem o jornal que dizia que o Benfica nunca tinha estado nos oitavos de final da competição (presumo que ganhou as taças dos campeões europeus e apareceu em cinco finais mais, sem passar pela casa de partida). Mas se pensam que este post é sobre fútebol estão redondamente enganados.
O Benfica vence a equipas com orçamentos largamente superiores. Equipas cotadas como as maiores do mundo, com os melhores jogadores do mundo. Cotadas por quem? Pelos comentadores que tinham quase a certeza que era desta que o Benfica ficava pelo caminho, e que só usavam da prudência para não serem despedidos por incompetência?
O fútebol é só um negócio. Eu adoro ver o Ronaldinho Gaúcho a jogar, mas se ele fosse do Grémio ainda, ou do PSG vá lá, gostava ainda mais. Amor a camisolas é uma coisa que acabou pela mesma altura do amadorismo. Eu não me importo que seja só um negócio. É apenas fútebol, e este post não é sobre fútebol.
Já estou farto dos manda-chuva do costume, dos que vêm dizer que os mais ricos e poderosos têm que ganhar sempre. Estou farto dos que andam sempre a ditar as regras do jogo. Estou farto das pessoas que entram em modas que não gostam, simplesmente para isso, para estar na moda. Estou farto da MTV a mostrar o pior que a música faz e vir fazer um European Music Awards em Portugal onde não actua nenhum grupo português "por não ter qualidade", quando pelo televisor, todos os dias, desfilam alguns dos piores artistas que se podiam imaginar, como os Black Eyed Peas, e se encontram milhares de artistas de Portugal melhor do que aqueles ensonsos ritmomaníacos-que-têm-a-mania-que-sabem-cantar e dos outros que para além disso se armam em gangster e glorificam as drogas e a violência e o egocentrismo, rett og slett.
Estou farto de todos os que perderam antes de começar. Estou farto dos que me chamaram maluco quando disseram que queria fazer o 12o ano num país estrangeiro, frio e com outra língua. Estou farto dos que dizem que não são capazes e dos que dizem que eu não sou capaz. Estou farto dos que não acreditam em sonhos.
Estou farto de crises, pessimismos crónicos, depressões, grandes e pequenas, dos que condenam, das morais impostas à suconsciência das mentes pequenas. E dos que não acreditavam que o mundo era redondo, e dos que não acreditam que ele é quadrado e também dos que não acreditavam que o Cabo das Tormentas alguma vez seria dobrado. E dos que nunca se enganam e raramente têm dúvidas.
Estou farto de quem tem todas as respostas mas não sabe fazer uma pergunta.
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* Na imagem: Galileo Galilei, that little sad and mad man who thought earth went around the sun. So silly isn't he?
**Impossible is nothing. Not wearing nike is not impossible either.
***Update: Não tenho nada contra marcas. Gosto dos símbolos, do design, do iPod e da Coca-Cola, e porque gosto de história gosto do que é genuíno, ou seja, das marcas que criaram as coisas pelas primeira vez. Só tenho algo contra as pessoas usarem as marcas a pensar nos outros em vez de pensarem em si próprias. E contra as pessoas que querem estabelecer padrões de comportamento para os outros...

tirsdag, april 04, 2006

the end

Fim do 5o dia: Depois num almoço na pizzaria/ restaurante italiano Da Pietro, pago do próprio bolso, jantámos num outro restaurante, este coberto pela expedição, assistindo alegremente a foclore polaco. Ok. Primeiro jantámos os nossos últimos bifes com batatas fritas antes de voltarmos à Noruega onde essas coisas são uma raridade. Depois veio uma sobremesa de chocolate e chantilly, e então sim, lá começaram eles a cantar e a tocar e a dançar. Dois pares, dois homens e duas mulheres. Entranto um dos homens desapareceu, deixando o outro dançando com um sorriso de orelha a orelha (não é exactamente verdade, mas às vezes têm que se adulterar os pormenores para subir as audiências) entre o par de moçoilas. Moçoilas que de quando em quando lhes dava para os agudos e entravam em conflito com os copos de cristal e os sensíveis tímpanos lusitanos deste vosso Abominável. O outro homem voltou vestido de cavalo. Uma figura popular no foclore polaco, parece, o cavalo. É um cavalo muito colorido que tem duas coisas nas mãos com que ele chegou às costaas de todos os presentes. O toque da sorte diz-se. Depois mais umas danças em que vários espectadores foram convidados a participar (agora que penso nisso metade da minha mesa sentiu, por essa altura, uma súbita vontade de ir à casa-de-banho...). E uma dança final onde todos estiveram presentes e que era assim. Dançávamos numa grande roda. Ao centro havia duas pessoas com lenços. Essas pessoas tocavam outra (geralmente do sexo oposto) com o lenço, caminhavam para o centro da roda, abriam os lenços entre os dois, trocavam três beijos e depois era a outra pessoa que ficava com o lenço e tinha a mesma tarefa.
Para acabar mais uma festa num dos quartos do hotel onde os noruegueses mostraram regozijo em esvaziar uma garrafa de absinto, eu dou um gole, tu dás um gole, ele dá um gole, eu dou um gole outra vez. E provavelmente também Jägermeister e cerveja e outras coisas do género, o que levou a que, no
6o dia: a grande maioria dos noruegueses tenha acordado com um ar mais p'ra lá do que p'ra cá, ou simplesmenta não tenha acordado, e não tenha ido visitar o castelo e a catedral. Mas eu lá fui e tal. O castelo parecia mais um museu, que mostrava o tesouro polaco, que ainda é bastante giro e tal mas parece que foi vítima de saques intensos principalmente numa certa guerra com a Prússia. Algumas das melhores coisas expostas nas vitrinas: uma coroa dem um monarca que construiu o castelo, retirada do túmulo do mesmo, por isso mesmo parcamente decorada, mas ainda assim interessante; a espada com que quase todos os reis da Polónia foram coroados, a tal que todos os polacos sabem onde está; uma outra, gigantesca, que foi apenas um presente, mas que um rei, que de polaco não devia ter muito, e pensou que fosse usado na coroação, e lá foi ele de exigir que o coroassem a ele também com aquela espada (devem ter sido precisos vários homens para evitar que o regente acabasse decepado); e uma verdadeira roupa real, à qual não deve ter sido dado tanto uso quanto isso, uma vez que pesava uns quilos valentes. Na catedral ressalte-se "the heart of Poland", um altar ao centro onde estão enterrados uns quantos reis e onde o papa João Paulo II costumava rezar quando estava em Cracóvia, e o sino, onde se diz que quem tocar com a mão esquerda vai ter sorte para a vida inteira (já tenho a sorte do cavalo de folclore, e mais a do sino, depois de visitar a Polónia sei que o resto da vida só me pode correr de feição; life, here I go!) e um daqueles locais para os quais atiramos os nossos Zloty. Diz-se que se fizermos isso acabamos por voltar a Cracóvia, o que quer dizer que em breve vou ganhar um qualquer concurso de um pacote de bolachas e o prémio é uma viagem. À entrada há também a destacar umas coisas pesadas das quais se diz que quando caírem:
opção a) a catedral vem abaixo;
opção b) o mundo acaba.
No nosso grupo integrou-se um irlandês de bandeira debaixo do braço e ares nacionalistas que tinha a mania que era o guia, e como a guia andava a tentar cumprir o tempo que tinhamos pago e só esse, completava as informações, "she forgott to say". Portanto há a realçar "that those are in fact the dragon bones, from the Krakows dragon" (o bicho de estimação oficial de Cracóvia é um dragão). No fim do dia fomos até a um outro hotel, numa criminosa cidade polaca. Fomos proibidos de abandonar o hotel (parece que alguns em anos anteriores acabaram sem camâras de filmar e de fotografar). Pareceu-me um sítio bastante pacífico, mas quem quisesse encontrava no hotel coisas como: um bar, jacuzzi, sala de informática, etc., etc., portanto esquece lá isso, quem é que precisa de sair para ver um conjunto de prédios cinzentos desfilando-se rua abaixo.
7o dia: Chegámos a Berlim. Passámos por um pedaço resistente do famoso muro (aliás, quem quiser comprar pedaços com cinco centímetros quadrados de área do muro, pintados com os graffitis, só precisa de ir a uma loja de souvenirs). Apreciámos as diferenças entre Este e Oeste, e quando viémos para o lado Este observámos também a fotografia de um soldado russo (em sentido contrário vê-se a de um soldado americano). Comemos no Hard Rock Café uns valentes hambúrgueres. Mas o que eu gostei mais foi uma igreja cujo tecto estava destruído e da qual ainda tenho que descobrir a história. No hotel em que dormimos abundavam os simpáticos ursos de Berlim pintados em várias cores e existia um pedaço valente do muro com uma inscrição por baixo.
8o dia: Visitámos dois campos de concentração na Alemanha, um dos quais só para mulheres e crianças. Agora não tenho paciência nem tempo para descrever isso, portanto continuando: acábamos o dia no ferry de regresso à Suécia. No ferry acabei por abrir pela primeira vez uma garrafa de cerveja com uma outra de água (surpreendentes habilidades norueguesas) e por ser acordado antes das cinco da manhã por alguém que dizia: vê, nós não estamos a dormir, ficámos acordados a noite toda (agora eu também estou acordado, obrigado).
9o dia: Regresso a casa. A "casa". No restaurante sueco onde comemos podíamos escolher entre esparguete à bolonhesa, lasagna ou as tradicionais bolas de carne suecas. E houve noruegueses que escolheram bolas de carne! Pela quinta vez na viagem ou algo semelhante! Algo que se está sempre a comer na noruega! Eles realmente têm um gosto gastronómico muito, muito pequeno.
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* A razão porque eu não apresento fotografais é porque a minha máquina é muito pequena, muito fraquinha e a tampa da bateria está partida, ou seja, para aguentar as pilhas lá dentro são precisos metros de fita-cola e uma mão a pressionar. Já não tenho paciência para máquinas completamente automáticas e sem definiçãom, nem a piada das Lomo e das Polaroid, depois de ter usado a semi-automática do meu amigo franco-turco-belga que não esteve comigo na viagem (ele esteve em Oslo ao mesmo tempo). Por isso não tirei fotografias. Talvez quando pedir a um dos meus colegas arranje qualquer coisa. Entretanto tirei bastantes fotografias do hotel de gelo que visite no último fim-de-semana, por isso "stay tuned".
**Para a Micas: Segundo o comentário à minha crónica no livro de Jo Nesbø tinhas tido interesse no mesmo. Na Wikipedia diz que ele, o autor, está traduzido em Alemão, mas não em Inglês. Não sei que livros estão traduzidos, mas é certamente policiais com Harry Hole. De qualquer das formas este Marekors não é o primeiro livro da série, mas sim o penúltimo. Lê aqui.

torsdag, mars 30, 2006

"o fim do príncipio"

Os começos são sempre complicados, pensou um homem, enquanto esperava que o comboio chegasse finalmente à estação. Depois do princípio as coisas cansam-se da existência, correm naturalmente para um fim. A eternidade é maçadora.
Existe um relógio quadrado na estação. Gosto muito mais dos relógios redondos. Era muito mais poético dizer que existe um relógio redondo na estação. Esqueçam lá a história do relógio quadrado, não havia na estação relógios quadrados. Era um relógio redondo e o ponteiro das horas apontava para as doze, o dos minutos estava quase sobre o cinco, e o dos segundos caminhava incessantemente e sem destino, tiquetaque, tiquetaque. Parece que o tempo dura uma eternidade.
Este homem que está aqui na estação tem um casaco preto, formal, uma gravata azul, uma camisa branca. Está aqui, parado, à espera que finalmente comece alguma coisa. Que chegue um comboio, com barulhos de motor, ruídos de locomoção. A bem dizer a história só devia começar quando o comboio cá chegasse. Está ali um personagem, pronto a entrar num comboio, sem destino que se adivinhe. E o comboio não chega, a história não começa. O homem está a perder a paciência, se não aparece nada guinchando sobre aqueles carris ali nos próximos tempos ele é bem capaz de ir a uma outra história qualquer.

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torsdag, mars 23, 2006

the 5th day

5o dia: Visitámos uma mina de sal, Wieliczka. À partida visitar uma mina não me entusiasmou. Nem visitar o sal. Mas a verdade é que esta não é uma mina qualquer. É a única mina de sal da Europa. A primeira estátua de sal, um conceito absolutamente fantástico de enormes esculpturas retiradas de pedras de sal, tem o Nicolau Copérnico, famoso astrónomo polaco, como figura. Fantástico, uma eculptura no sal. Ainda não viste nada, digo agora a mim mesmo. Os religiosos mineiros esculpiram uma capela inteira naquela mina. Em algumas das câmaras existem estátuas que representam a história da mina, e que são iluminadas vez a vez, enquanto se houve as vozes das personagens numa representação teatral. E depois uma "catedral", a capela de Santa Kinga (nome da rainha da Polónia, responsável pela pertença desta mina ao país, segundo história contada na própria mina). Santos variados esculpidos no sal. À saída uma estátua de João Paulo II. Mas esta veio depois, à parte, penso eu de que. Porque o resto do sagrado espaço saiu da cabeça dos preserverantes mineiros, que depois das largas horas de trabalho escavando o sal desta mina, decidiram ocupar o seu fritid, desculpem-me, tempo livre, escavando obras de arte do sal desta mina. Inclui uma visão esplenderosa, em 3D (baixo-relevo), da Última Ceia de Leonardo da Vinci, que faz muito mais que juz à original. Vejam as imagens, retiradas da Wikipedia. Salienta-se que estes homens não viviam da arte, com ou sem sanato. Antes de sair, muitas mais surpresas, incluindo um espaço gigantesco destinado aos turistas, onde se encontra um bar, muitas cadeiritas e mesitas e lojas de souvenirs. Mais surpresas: um lago onde se pode ouvir música de Chopin, ele próprio polaco desde que nasceu. No fim acabei por comprar um pequenito guia da mina fantástica, dando uso aos meus zlotych. O livrinho vinha em quatro linguas, Polaco, Dinamarquês, Português e Holandês. Outras línguas estavam disponíveis... mas não o norueguês. Eheheh, ri-me eu.
O dia não acabou sem que visitássemos a colorida, linda, fantástica Igreja de Maria, em Cracóvia. Quem lá for que a visite [:P]...
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