kingdom of heaven
Acabei de ver o filme Kingdom of Heaven, mais um épico à americana, e isso é dizer muito. Para começar há que ver que, para encontrar Jerusalém, one must "go to where the men speak Italian, then continue to where they speak something else", e isso é dito ao personagem principal. Personagem esse que vive em França. Olhem para um mapa e se virem um país com língua oficial italiana entre França e a Palestina, por favor deixem um comentário. Podem procurar nos mapas dos tempos das cruzadas. Quando muito falou-se latim por aí, muito tempo antes... De qualquer forma desde França a Jerusalém toda a gente fala inglês, e com sotaque de uma América ainda por descobrir pela maioria da humanidade, e acabamos por não desvendar alguém que fale italiano. Apesar da infelicidade de não encontrar pessoas que falem italiano, o personagem vai eventualmente descobrir a sua Jerusalém, onde habitam uns estranhos muçulmanos que tentam falar tanto árabe com os estrangeiros como possível, mas falam inglês entre si. Sumarizando: o típico filme épico americano.
Não obstante fez-me escrever este post. Porquê talvez percebam só depois de verem o filme, ou talvez nem mesmo por essa altura... A maioria das guerras foram travadas por terra. Como aqui em Portugal, por exemplo, um tal de D. Afonso Henriques pegou num punhado de crentes e andou por aí a devastar árabes, criando um reino a que podia chamar de seu, um reino que mais de mil e oitocentos anos depois haveria de levar um representante aos Jogos Olímpicos de Inverno em Torino. Ele ganhou a sua terrinha, ganhou o seu poderzinho, o seu tronozinho, acabou por morrer, hoje se lhe forem ver à sepultura verão que da sua postura erguida e rígida de rei já muito pouca de sobre, pó e terra se tornou. Se calhar até fez tudo por birra a sua mãe D. Teresa, que teimava que ele devia sempre comer a sopa até ao fim, para um dia ser um cavaleiro valente e forte, capaz de derrotar o exército dela numa qualquer batalha de S. Mamede. Sumarizando novamente: combate-se por terra, para tirar uns quantos dela e lá colocar outros tantos.
O homem sempre combateu demais. A maioria das vezes nunca obteve respostas satisfatórias para as questões que indúbitavelmente lhe terão atravessado pelo caminho. Porque vamos para a guerra? Para combater infiéis que nos vieram combater a nós para combater infiéis? Se calhar são só impulsos sexuais, diz Freud. Vá-se lá saber. Não interessa para este post.
Um emigrante chega a uma terra nova e distante, com paisagens que nunca viu, gente que nunca conheceu, cheiros que nunca cheirou. É como um exército que chegou a uma nova terra. Mas o que vai ele fazer sem capacidades de liderança nem ninguém para liderar? Se as únicas armas que tem são a roupa que traz na bagagem? Talvez um canivete, a arma mortífera da armada suiça, e esse se veio, veio no porão. Aos emigrantes colocam-se duas opções. O país é estranho. Pode fechar-se no seu apartamento, correr os estores, ligar a televisão e não perceber nada do que nela se diz*, abrir todas as ferramentas do canivete, tentar perceber para que é que foram criadas e fechá-las outra vez e, um dia, provavelmente, perceber que não gostou (han mistrives) pôr as roupas todas na mala e voltar, recambiado, para o país de origem, sem se lembrar porque tinha vindo por ali. Ou pode fazer qualquer coisa mais. Pode ir esquiar e cair, e dizer, Sim, temos um representante nos Jogos Olímpicos, chama-se Danny Silva e foi 94°, e eventualmente alguém se vair rir e explicar como é que se usa o fiskebone para súbir as montanhas. Pode tentar falar norueguês e ouvir, "Excuse me, what did you say?", e decidir então inscrever-se em cursos para emigrantes, pedir ajuda a colegas de trabalho ou ao que quer que esteja à mão. Pode ser que não resulte, sempre pode ser, but "life is", indeed, "what you make of it".
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*Eventualmente descobrir uma maneira de assinar a RTP Internacional e mandar um SMS para a Praça da Alegria.
**Continua no próximo post. Agora estou estoirado e vou dormir. Mal consigo manter os olhos abertos, mas senti necessidade de escrever likevel, por isso desculpem se nada disto faz qualquer sentido. Fará para mim de qualquer forma.
2 Comments:
Fiquei curiosa com o filme! e achei este post muito interessante.
Estás na Noruega?? então vou ter que mudar o link ;)
Boa semana aí por cima :)
Estou a estudar na Noruega até fim de Junho.
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